segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Disponibilidade

Antigamente eu não pensava assim. Antigamente eu não achava que o amor podia ser uma questão de disponibilidade. Não eram palavras que rimassem. Amor é amor, achava eu. É amor no Pólo Norte ou no Equador, no Inverno ou no Verão, de dia ou de noite. Não havia um tempo para o amor, na minha cabeça. Amor era amor, capaz de surgir no meio de um tremor de terra ou de um assalto, se fosse preciso.
Agora não é assim. Agora pensar em disponibilidade faz sentido. Agora vejo que há momentos em que é impossível o amor. É impossível abrir o coração quando nem se sabe onde ele anda. É impossível pensar em dar, ou mesmo em receber, quando há apenas cansaço. Quando a palavra esforço entra na equação. Quando o amor não é maluco e doido como quem se atira de um avião com pára-quedas porque simplesmente não há força para dar o salto, mesmo equipado. Agora eu olho para trás e acho que quando duas pessoas se apaixonam e começam uma relação com uma disponibilidade completamente diferente para o amor uma das duas vai herdar um cansaço que não é o seu.
Eu herdei um cansaço que não tinha a ver comigo, que não era eu, que não tinha sido eu. Não é justo, mas é verdade. E sei agora que o amor pode muita coisa mas não pode tudo. Pode adiar o cepticismo, pode contornar a sensação de fracasso, pode entusiasmar-se durante uns tempos, mas se começar cansado, vai acabar cansado.
Por isso perguntam-me por amores, por interesses, por jantares a quatro ou por ocasiões para apresentar não sei quem, como se estar sozinha fosse algo que tivesse de ser resolvido o quanto antes. Como se fosse quase contagioso. Mas eu não quero. Não agora. Não com o meu coração cansado e com os meus sonhos cansados e esta sensação de que alguma coisa se partiu e pode não ter conserto.
Porque agora sei que sim, o amor também é uma questão de disponibilidade. Que nem sempre se tem.

19 comentários:

Phyxsius disse...

Como compreendo todas essas sensações...

R.L. disse...

nem mais...

Blossom On A Tree disse...

Se a relação que tinhas acabou há pouco tempo, é mesmo compreensível que te sintas assim. É preciso fazer o luto da relação, ter aquele tempo para estarmos a sós connosco, aprendermos a estar sem a outra pessoa, redescobrirmo-nos. Partir para outra assim, num flash, é uma asneira, pois ainda se está com a cabeça e o coração no passado, ainda é tudo muito recente.
Alguém disse, "Being single does not always mean being available.", e há alturas em que faz muito sentido.

Beijinho

S. disse...

Há uma enorme verdade neste teu sentir... há que dar tempo e espaço ao coração para repousar.

Gostei muito :)

Jo disse...

que texto lindo.
percebo bem o que escreves...passo pelo mesmo.
há alturas em que simplesmente não estamos disponíveis...apesar de não termos ninguém
outras até temos alguém...e nem nos apercebemos que afinal estamos disponíveis.

Catarina disse...

é verdade. o amor é uma questão de momento. o momento em que o coração tem olhos e encontro outro coração com olhos. é preciso também ser o momento em que os dois corações para além de olhos têm boca para dizerem que sentem. os corações cansados têm os olhos fechados [é sono, estão muito cansados...] e a boca fechada porque aquilo que comeram lhes caiu mal e não a querem sequer abrir.

mas depois de dormir, depois de descansar, depois de "passar" e - é mesmo verdade - quando achamos que [finalmente] aprendemos a viver sozinhas: os olhos do coração voltam a abrir.

um beijo. leio o teu blog. li a tua história. mas só agora fez sentido comentar.

descansa.

Anónimo disse...

Quando te voltares a encontrar e voltares a reconhecer e apreciar a pessoa que és, a disponibilidade volta, sem prazo nem data marcada. Força.

Jo

Carla Santos Alves disse...

Olha...eu entendo o que dizes e o que estás a sentir...mas sabes eu acho que "amar" é uma decisão!
Não consigo aceitar que se ame alguém que nos faz sofrer...por isso amar é uma decisão que se interioriza...vive! Namora e decide amar quem te ame e te trate bem, sem cansaços...para que quando um estiver cansado o outro saida dar a mão ou aquele abraço!
Mas abre o teu coração...e decide amar!

Bjs

Euzinha disse...

Li e concordo plenamente, faz todo o sentido! Já senti o mesmo e apesar de a relação continuar sei o que sentes!!! Sei que tudo o que nos dizem apesar de até fazer algum sentido não nos ajuda em nada, pois só o tempo o ajudará!!!!

Gosto muito do teu blog e da maneira como escreves.

Beijinhos

Ana disse...

obrigada.

Ana disse...

também só aprendi agora que o amor não é "preto ou branco"

Patty*=) disse...

Ás vezes parece que a disponibilidade não volta nunca...

... porque não apetece
... porque tudo parece forçado
... porque não temos vontade de ter trabalho
... porque sentimos que todo o mundo se apercebe do cansaço que herdámos
... porque ninguém parece arrebatador o suficiente
... porque nós não nos parecemos arrebatadoras o suficiente
... porque sim e porque nao
... porque amámos demais e não parece ser possível ter restado uma gota de amor que possa voltar a despertar

Tudo parece ser um bom motivo para não deixar a disponibilidade abrir as portas... mas quando menos esperamos...
Sim, é uma questão de disponibilidade também, mas quando o amor voltar a surgir, essa palavra vai apagar-se do teu dicionário como por magia =) *

Vanessa Casais disse...

Tens uma maneira tão inocente, verdadeira de sentir, pensar e escrever que chega a ser ternurenta e infantil. É ingenua e faz-me lembrar os meus sentimentos antigos. Tens a sorte de só passar por tudo isso agora. O azar de ser este o teu Presente e de novo a sorte do Futuro ainda estar em aberto. Aproveita para imaginar e desenhar o futuro que queres e não te contentes com menos. Não tens urgência por isso megoceia. talves assim faças um melhor negócio ;)

SMS disse...

Que bem escrito...
Beijinho grande.

SMS

N disse...

Parece que sim. Eu também não sabia. Ou melhor, até sabia, só que não tinha a certeza.

N disse...

Reli o teu texto, reli outros posts, e acho que estamos um bocadinho a viver a mesma história. E a moral (da história) permanece igual: passa. Tudo passa.

Frances disse...

Conforme diz e muito bem a N tudo passa.
Nada como a "lenga lenga" do tempo para nos fazer distanciar do nosso corpo em sofrimento.

Nada como uma desilusão para nos tornar mais fortes.

Sei que são palavras, mas a verdade é que no verso das palavras encontrarás a força necessária para impedires que a tristeza vença.

um conselho (para ti e a N) o nosso tempo interior não volta atrás.

O hoje, aqui e agora não acontece duas vezes a menos que seja distanciado por um, dois ou mais dias.

É um ano novo.
Tudo tem de ser novo, incluindo as emoções.
Bom ano para as duas!
F.

Quasimodo disse...

Tens alguma razão, na questão da disponibilidade, mas acho q racionalizar demasiado acaba sempre por dar m#$da.

E quando o amor não é maluco não é bem amor, por isso é que faz tanto sentido (e custa tanto...) cair para te voltares a levantar de novo.

Força aí (deixa-me que te diga que a descrença é, normalmente, sinal de crescimento, apesar de custar p'ra xuxu).

ST disse...

pelo que ja li do teu blog tambem estas a passar pelo mesmo problema que eu... um pós-amor, assim lhe chamo! gostaria que lesses o meu blog para que fiques a saber que apesar de nao te conhecer e não saber nada sobre ti, que também me aconteceu comigo e foi desta forma "acabou susana! percebe", nua e crua, mas sincero. estranho pensamento o meu mas assim é. um beijo enorme, fico a tua espera na minha janelinha :)